sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Espaço LIJ - Fevereiro de 2013

Janeiro é um mês corrido, não é? Quem trabalha com literatura infantil e juvenil sabe o que é ter a corda no pescoço. Escritores revisando copidesques, ilustradores correndo com o trabalho, contratos sendo enviados pelo correio, editores indo a loucura com os prazos apertados... Isso é coisa do tal PNBE que não espera os retardatários. 

E ainda tem as crianças em casa, de férias, entendiados por causa das chuvas de janeiro que entram pela janela molhando tudo. E a gripe? Alguém aí pegou? Aqui em casa tombamos os quatro.

Mas fevereiro vem logo aí, com novos originais ávidos por leitura e sonhos de mudanças para novas casas.

Os convidados do mês são duas moças esbanjadoras de talento. Na Ilustra, minha long lost sister Janaina Tokitaka e na Entrevista Foguete a genial mãe de jabutizinhos, Stella Maris Rezende! Viva elas!


ILUSTRA com Janaina Tokitaka

Janaina e eu temos muito em comum. Descobrimos que gostamos dos mesmos temas literários. Ambos adoramos monstros, dragões, robôs e outros bichos. Já até combinamos de criar algo juntos. Nos aguardem!

As imagens abaixo são etapas do processo de criação do inédito livro-imagem Nanquim.


A paulistana Janaina Tokitaka estreou com o livro “Como casar com André Martins”, da Indigo, pela Girafinha em 2005. Entre publicados e contratados, essa menina tem mais de 30 livros editados, sendo 8 como escritora e ilustradora.

Na imagem acima, Janaina fez o traço a lápis, com a mão muito leve para não marcar demais o papel, que é de fibra de algodão. Depois, finalizou os personagens com bico de pena e ecoline cinza. Por último, preencheu a imagem com aquarela e guache. Esta imagem tem uma particularidade: o dragão foi feito com a técnica oriental sumiê. O desenho foi feito direto no papel, sem rascunho e utilizando um pincel próprio para isso. (O mesmo usado para caligrafia.)




IDEIAS NO PAPEL

Sabe essas noites que você sai caminhando sozinho, de madrugada, com a mão no bolso. Na rua! E você fica pensando naquela história. Você fica torcendo e querendo que ela estivesse... finalizada! Aí finalmente você encontra o gancho. Tandam! Que felicidade, que felicidade, que felicidade...

É mais ou menos assim que acontece com muitos autores. A ideia vem. Fica lá teimosa na cabeça, sem querer ir embora. Começamos a nos entusiasmar com tudo, mas falta o gancho, aquilo que faz a história valer a pena ser escrita. O diferencial.

Uma vez comentei que ter uma história na cabeça e não colocar no papel é como ter um brinquedo que não podemos tirar da embalagem. Ficamos namorando aquilo, mas sem realmente poder brincar com ele.

Quando comecei a escrever literatura infantil e juvenil, eu queria criar textos para cada ideia que surgia. Claro, a história nunca chegava pronta. As vezes era uma situação. Uma frase que ouvi na rua. Em outras eram palavras somente. Resolvi anotar cada uma. Quem sabe a inspiração não vinha depois? A lista foi ficando longa. “Bulhufas”, “Meu bicho carpinteiro de estimação”, “7 dias com os aborígenes”...

Embora eu tenha desenvolvido ideias anotadas, entre elas algumas que já viraram bons livros, chega uma hora em que você percebe que nem tudo o que antes parecia ser bacana, serve. Bulhufas? O que fazer com isso? Pode virar nome de personagem e só.

Com a experiência, passamos a nos tornar mais críticos e a selecionar melhor o que escrevemos. Nosso tempo livre já não é tão elástico assim. Cada história é pesquisada, escrita, reescrita e revisada. Mostramos para colegas. Ouvimos e absorvemos as críticas. Reescrevemos novamente. Assumimos outros compromissos literários: Palestras, visitas, leituras, encontros com leitores, reuniões com editores...

Hoje em dia, só sento para escrever um livro se for algo especial. Um texto diferente. Com um bom gancho e um final que surpreenda. Claro, continuo com meus escritos sem compromisso. Mas quando é para publicação, aí é outra história.

Afinal, alguns brinquedos são mais legais na embalagem. Depois que os tiramos de lá, vemos que não mexem os braços, que a pintura tem falhas e que o elástico é quebradiço.


ENTREVISTA FOGUETE com Stella Maris Rezende

Quantos livros publicados?
40 livros publicados em 33 anos de carreira.

Três livros seus para quem não te conhece?
Maravilhosa e inesquecível ideia de amar (Dimensão)
A mocinha do Mercado Central (Globo Livros)
A guardiã dos segredos de família (SM)

Dizem que "A mocinha do mercado central" é o primeiro livro juvenil a ganhar o Jabuti. Dolores Prades escreveu uma matéria intitulada "Livros tem idade?" onde diz que "A adoção de faixas etárias para indicar os leitores de um determinado livro, além de promover uma nivelação arbitrária, reduz e limita a vida e a abrangência dos livros." Ela afirma ainda que os bons livros encontrarão leitores sensíveis em qualquer idade. Você concorda? E já que estamos no tema, por que "A mocinha do Mercado Central" é considerado literatura juvenil?
Concordo com Dolores Prades, autoridade no assunto. No entanto, “A mocinha do Mercado Central” pode ser considerado um romance juvenil, devido ao tema e ao tom da narrativa, que “conversam” com o olhar juvenil. A alma juvenil permanece em nós, adultos, daí o livro carregar em sua construção-desconstrução vários aspectos que podem encantar outros leitores mais experientes na vida e no trato com a palavra. É importante frisar que ao me dedicar a um texto, preocupo-me em fazer literatura, sem me deter no público-alvo.

Ao longo de sua carreira, você recebeu vários prêmios e nos últimos anos vieram vitórias importantes, como no Barco a Vapor e nos Jabutis. Com tantos troféus na estante, e já tendo conquistado quase tudo o que podia por aqui, pretende ainda concorrer em concursos literários no Brasil ou buscará desafios internacionais, como o Prêmio Compostela da Kalandraka? 
É claro que almejo outros prêmios, mas o fundamental é dar continuidade ao projeto estético, sempre tentando fazer arte, trabalhar a linguagem, surpreender e encantar o leitor. Costumo dizer que a literatura é a arte que fala por silêncios e cala entre palavras.

Você começou como atriz e, de acordo com seu site, seu primeiro livro foi uma peça teatral. Tem outras peças escritas além de "Corpo Tenso Voz Passiva"? Pretende escrever mais para o teatro?
A atriz permanece, principalmente quando converso com crianças e jovens nas escolas e feiras de livros. Faço questão de ler trechos dos meus livros em voz alta, por meio de uma leitura dramática, e isso tem colaborado na divulgação da minha prosa poética, que tem toda a atmosfera da sonoridade do linguajar mineiro. Não pretendo continuar escrevendo para o teatro, mas os críticos costumam dizer que meus livros são teatrais e cinematográficos, o que de certa forma preenche uma lacuna do trabalho de dramaturga e atriz. Posso também voltar a escrever para o teatro, quem sabe? No ano passado escrevi um roteiro para cinema, “Sem medo de amar”, baseado no meu livro de contos “Sem medo de amar” publicado pela editora Moderna. É bem provável que vire filme de fato. Sou apaixonada por cinema também, tal qual a protagonista de “A mocinha do Mercado Central”...

Site da autora: http://www.stellamarisrezende.com.br

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Este Espaço LIJ foi publicado em seção própria no jornal digital Sobrecapa Literal nº 24Acesse www.sobrecapaliteral.com.br para fazer o download da publicação inteira em formato tabloide.

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